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Grupo Escolar Antônio João, em Piquete-Sp.Turma do 1° ano em 1957 Postada por Ilce Nunes e fotografada por D Mariinha |
Foi no Grupo Escolar Gabriel Prestes em Lorena, no estado de São Paulo que pela primeira vez entrei numa sala de aula.
Já havia sido alfabetizada por meu pai porque morávamos no Estado do Rio de Janeiro onde, além de morar distante, era difícil conseguir vagas na escola. Preocupado em ver que eu crescia sem saber ler e escrever, ele me ensinou o que sabia.
Tinha nove anos quando entrei na primeira série do curso primário. Graças ao meu querido pai, ao carinho e à competência de minhas professoras, à minha vontade enorme de aprender, não tive dificuldade alguma em meus estudos.
Tudo era novo para mim, a disciplina, a organização da escola, , o material de ensino, tantas crianças juntas...
Estranhei um pouco as carteiras duplas que, se nos mexêssemos muito, balançávamos a mesa do colega de trás e o da frente balançava a nossa. O tinteiro com tinta Nanquim ou Parker era embutido na mesa.
Havia lugar também para a goma arábica, para lápis e borracha. Em baixo dela havia espaço para colocar os cadernos e livros.
Toda sala possuía um apontador de lápis coletivo e tínhamos o alongador que permitia usar o lápis até estar um toquinho ( que tal essa dica ecológica nos dias atuais?)
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pena de escrever |
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Parker 51 - caneta tinteiro dos anos 60 |
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homem vitruviano imaginado por Leonardo Da Vinci -exemplo de desenho feito à bico de pena |
Depois foi criada a caneta tinteiro.
Quanta tinta derramada!
Foi uma grande alegria quando ganhei a minha primeira Parquer 51, era um luxo!
Sendo canhota, escrevia passando a mão por cima da escrita e muitas vezes borrava a folha do caderno porque a tinta demorava a secar. Eu precisava fazer ginástica para escrever.
Para enxugar o excesso de tinta usávamos mata-borrão.
Os cadernos eram de brochuras, grampeados no centro.
Se arrancássemos uma folha, a outra despencava e, por mais cuidado que tivéssemos, ficavam cheios de "orelhas".
O caderno de caligrafia deixou minha letra redondinha que dava até gosto!
Foi a d. Ester, professora do terceiro ano, que me aconselhou, a copiar nele, durante as férias, a última e enorme lição do livro de leitura.
Tínhamos também um caderno de Linguagem, um de desenho, um de ocupação e um só para provas. Todos eram encapados, etiquetados e guardados em armários nas salas de aula. Somente levávamos para casa o caderno de tarefas diárias.
O livrinho de tabuadas (continhas de vezes) era decorado "na ponta da língua", a régua era de madeira,
as folhas de papel ao maço pautadas, também guardadas no armário, eram usadas nos exames do meio do ano e finais. Tínhamos uma espécie de mala ou pasta para transportar o material de casa, que deveríamos cuidar muito bem para que durasse os quatro anos.
A alfabetização era iniciada com a "Cartilha Sodré: " de Benedita S. Sodré
"A pata nada.
A macaca é má.
Pata pa nada na
macaca ma

O primeiro livro foi o "Caminho Suave" de Branca Alves de Lima.
Hoje muitos criticam os métodos de alfabetização utilizados na época, mas a verdade é que os alunos ao final do curso liam e escreviam corretamente. Um exemplo disso foi meu pai, que me alfabetizou, tendo cursado apenas até o segundo ano primário. Quantos alunos atualmente chegam à sétima e oitava séries do ensino Fundamental sem saber ler!
Eu era muito alta, além disso era dois anos mais velha que as outras crianças. Ficava profundamente envergonhada quando fazíamos fila para entrar ou sair da classe, era quase o dobro da altura de meus colegas, e me curvava para parecer menor, queria que um buraco se abrisse para poder me esconder!
No recreio via as crianças brincando de roda, de pega-pega, chicotinho queimado,... e me achava sem jeito para brincar com elas, mas aos poucos fui me adaptando. Sentia que apesar de toda a minha timidez aos poucos elas iam se aproximando de mim.
Havia respeito, amizade, entre os pequenos da época.
A facilidade que eu tinha em aprender foi conquistando minhas professoras, até as ajudava a corrigir cadernos.
A escola se tornou o meu segundo lar.
A nossa infância na escola era imensamente feliz!
Tenho saudades:
das minhas professoras, D. Ester de Almeida, D. Mirthes, D. Heloísa E. de Castro Andrade,
gostaria muito de ter sido aluna de D. Elsa Del Mônaco e de D. Doli de Castro Galvão, porque elas organizavam o orfeon da escola, que era a minha paixão.
Todas eram profissionais competentes, dedicadas, exigentes quanto à aprendizagem, rígidas quanto à disciplina, tinham controle absoluto sobre seus mais de quarenta alunos em sala de aula.
Saudades também dos diretores que amávamos: D. Ângela e Prof . Frederico Húmeo,
da D. Aparecida Pereira, nossa inspetora,
do seu Porto que tocava o sino da entrada e saída dos alunos...\
Passaram-se rapidamente aqueles quatro anos.
Tínhamos em seguida, sendo aprovados, que passar pelo exame de Admissão ao Ginásio,eram provas escritas e orais, dificílimas, uma espécie de "vestibulinho". Alguns alunos faziam um período preparatório de um ano, mas este não era obrigatório.
Vencida mais esta etapa, seguíamos para a primeira série ginasial, onde nos esperavam treze matérias, aulas também aos sábados, com provas semanais ( sabatinas)e mensais, exames parciais ( meio do ano) e finais, orais e escritos. As matérias eram todas com notas atribuídas de 0 a 100 e eram: Matemática, Português, Francês, Inglês, Latim, História do Brasil e Geral, Geografia, Ciências Físicas e Biológicas, Canto Orfeônico, Economia Doméstica ( trabalhos manuais, culinária, primeiros socorros, etc), Desenho Geométrico ( cada aluno tinha a sua prancheta), Educação Física, Religião, Educação Moral e Cívica. Dureza!
Alunos de todas as classes sociais frequentavam a escola pública em harmonia, como numa perfeita democracia. Um diploma adquirido nessas escolas valia tanto quanto o das escolas particulares.
A disciplina no ginásio era rígida.
Na entrada precisávamos apresentar a caderneta escolar que era recolhida e carimbada diariamente, somente retirada no final das aulas (matar aulas, nem pensar). Se bem que um ou outro aluno dava seu jeitinho de escapar, mas não conseguia safar-se da ocorrência registrada na caderneta.
Vários inspetores de alunos nos mantinham sob vigilância constante, mas eram gentis conosco: dona Natívidade, a Sílvia, a dona Diva, o "seu" Fausto, "seu" Portugal...O Diretor, Professor Nelson Pesciotta, dirigia com pulso firme o nosso amado Arnolfo Azevedo!
O uniforme completo era obrigatório: saia ( calça social ) azul-marinho pregueada, blusa ( camisa ) branca de mangas curtas com o emblema da escola no bolso: "AA" (Escola Estadual Arnolfo Azevedo), sapatos pretos ou tênis branco (nos dias de Educação Física), meias brancas .
Participávamos de jogos, campeonatos internos e inter-municipais, olimpíadas, desfiles em datas cívicas, (eu estava sempre na guarda de honra das bandeiras e uma vez fui a Estátua da Liberdade), a nossa fanfarra era campeã!
Todos os anos apresentávamos um festival com números musicais, teatro, dança,...
Tenho saudade maior ainda do nosso coral, onde eu fazia a primeira voz e solo.
Nosso Grêmio Estudantil era ativo, participávamos das decisões, da vida da escola.
Éramos felizes! Ríamos muito com as brincadeiras e piadas dos colegas, ( havia sempre um engraçadinho na turma). Bons tempos!
Concluída a quarta série ginasial, finalmente chegávamos ao Curso Colegial ou Normal. Precisávamos optar entre: Científico (para áreas de ciências exatas), Clássico(para Línguas) e Normal ( o que escolhi, para ser professor).
A escola nos formava para a vida, saiamos dela cidadãos conscientes ! Amávamos nossa Pátria!
Identidades foram formadas, teceram-se histórias, marcas foram deixadas pelo Tempo, lembranças, muitas coisas esquecidas, fotografias amareladas, velhos troféus abandonados nos velhos porões, livros mofados,...
Ao longo dos anos fomos perdendo a memória dessas instituições e quem sabe de nós mesmos.
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CEEN Arnolfo Azevedo-Lorena-SP- sala de desenho - Turma 3° ano Normal- 1966 |
O que fizeram dos ensinamentos que receberam, dos ideais de liberdade e amor pela democracia que apregoavam ?
O que fizeram eles com os sonhos da nossa juventude?
"Se és incapaz de sonhar, nasceste velho; se o teu sonho te impede de agir, segundo a realidade, nasceste inútil; se porém, sabes transformar sonhos em realidade e trocar as realidades com a luz dos teus sonhos, então serás grande na tua Pátria e a tua Pátria será grande em ti."