Lembranças doces de uma infância tranquila e uma adolescência cheia de sonhos, repleta de momentos alegres, descontraídos, sadios!
Minha velha e querida Lorena!
Cheguei aqui ainda menina, com oito anos, na estação ferroviária.
Chegava para uma nova vida, ao lado de meus pais e irmãos! Cheia de expectativas!
Em frente a estação ficava o Hotel Guarany, que pertencia aos tios de minha mãe e onde papai iria trabalhar. Os tios eram espanhois, muito queridos e conhecidos na cidade: o tio Pepe e o tio Santiago.
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Estação Ferroviária de Lorena- hoje Casa do Artesão |
Eu me sentia livre, podia sair com a minha bicicleta pela cidade, sem medo. Andava pelas ruas nos dias de chuva (quando saia da escola), tirava os sapatos e vinha chutando as águas, brincando com elas, com prazer! Deixava que a chuva me molhasse inteira, mesmo quando tinha um guarda-chuva. Chegava em casa "pingando", mamãe ficava brava, me mandava correndo para um banho quente!
"- Vai ficar doente, Neinha!"
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Igreja matriz de NS da Piedade. |
Situada entre a Serra da Mantiqueira e Serra da Bocaina, debruçada no verde vale do Rio Paraíba do Sul!
Esquecida, travada em seu progresso pela incompetência dos seus políticos!
Quem conheceu Lorena há cinquenta anos atrás, poderá notar que quase nada mudou.
São muito queridas as lembranças do Grupo Escolar Gabriel Prestes;
do catecismo no lar das Irmãs de Auxiliadora, no Largo do Rosário;
das missas na Catedral,...minha primeira comunhão;...
do meu querido colégio Arnolfo Azevedo, que era abrigado pelo belissímo Casarão Conde Moreira Lima, no Largo da Matriz, e onde atualmente funciona a Casa da Cultura de Lorena.
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Prefeitura Municipal e Biblioteca |
Saudades da Biblioteca Municipal, também no Largo do Rosário, onde passei maravilhosos momentos da minha vida. Sinto que o magnifico casarão que a abrigava tenha sido demolido.
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Rua das palmeiras imperiais. |
Muitos anos vivemos numa casa modesta próxima à Rua das Palmeiras, grandes e queridos amigos ali fizemos: o Manoel, o Alan, a Heloísa, a Mazinha...a Maria Inês e a Bel, a Ludovina, a Angélica,...a Nancy, a saudosa Delizete, o Dagoberto...
Ah! Caminhar pela rua das Palmeiras diariamente... Meu pensamento voa e se detém em cada passo naquela avenida, vejo-me menina, tocando aqueles caules imensos, encantada com a imponência de seu porte.
Não posso deixar de tornar a me referir ao meu amado Arnolfo Azevedo, colégio em que me formei e passei os melhores momentos da minha juventude!
Saudades da praça Arnoldo Azevedo, com o chafariz de águas coloridas que dançavam ao som de lindas músicas, enquanto as mocinhas desfilavam no passeio, admiradas por seus "flirts". Onde foi parar aquele maravilhoso chafariz?
O Nosso Cinema, era programa obrigatório de Domingo; hoje não existe mais, virou Casas Bahia.
O CLUBE COMERCIAL DE LORENA era o point da juventude da época! Ficava numa esquina da praça, onde hoje se localiza o banco Santander.
Era onde íamos a bailes e "brincadeiras", dançávamos, mas sempre acompanhadas e severamente vigiadas por nossas mães, em posição estratégica, acomodadas na sacada acima do salão.
Naquele tempo iniciei a minha carreira de "manequim".
Eu era uma garota tímida, insegura.
Quando me convidaram para participar de um "desfile de modas", pensei que deveria haver algum engano. - "Quem? Eu? Tem certeza?"
Parecia um sonho! Desfilando pelo salão! Todo aquele "glamour", era o centro das atenções...eu... uma menina simples, uma modelo que não usava maquiagem, cabelos lisos e longos...
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Uma queda imprevisível! |
Não esqueço de uma vez, quando descia os degraus do palco para entrar no salão, uma torção no tornozelo me fez cair. Nem sei como tudo aconteceu em seguida. Era como se tudo tivesse acabado! Não haveria mais oportunidades para minha vida! Sentia uma vergonha imensa de todas aquelas pessoas que estavam ali!
Vi-me no vestiário, com muita gente ao meu redor. Diziam que não precisaria voltar ao desfile se não quisesse, mas eu havia assumido um compromisso, estava apenas começando o meu desfile. Enchendo-me de coragem, após me recuperar da dor, voltei à passarela!
Foi um momento inesquecível, cheguei a conclusão de que o Ser Humano é bom, é solidário! Via quase entre lágrimas, as pessoas, de pé, me aplaudindo.
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A solidariedade contagiante! |
A emoção foi indescritível! Daquele dia em diante, passei a confiar muito mais em mim e nas pessoas. Não tinha mais medo delas. Compreendi que as dificuldades têm que ser enfrentadas! Que cada um tem seus medos e inseguranças com relação ao outro, que como nos, têm suas fraquezas e defeitos, que também cometem erros e tropeçam como nós. O que importa é que quando for necessário estendamos as mãos para acolher.
A esta querida Lorena que me acolheu, o meu eterno agradecimento. Que eu ainda possa um dia retribuir a todo esse amor!