Casa simples, em Olinda, Distrito de Nilópolis, onde nasci e passei bons momentos da minha infância.
Era de "fundos", havia um portão na entrada, ao lado dele um banco de madeira, onde à tarde nos sentávamos para "ver o movimento da avenida". Lembro-me bem das procissões nos dias santos e dos dias de Carnaval, quando passavam os blocos "de sujos", ( mascarados, homens vestidos de mulher, diabinhos, morcegos, etc), Eu morria de medo dos diabinhos e dos morcegos! Naquele tempo, a Beija-Flor de Nilópolis era apenas um bloco carnavalesco, mas já nos encantava.
Para chegar à casa tínhamos de passar por um corredor, ladeado por uma cerca e um muro alto. Eu tinha um pavor enorme de passar ali à noite, no escuro, parecia-me interminável, cheio de fantasmas. Ia correndo, cantando alto para espantar o medo, era como se houvesse algo atrás de mim, a me empurrar para frente. Pior era quando a vovó nos fazia varre-lo. Nunca mais acabava aquela varreção.
Uma delícia também eram: o picolé de groselha que íamos chupando até ficar só o gelinho no palito, a bisnaga fresquinha com manteiga no café da tarde (que eu ia buscar lá da padaria do seu Aníbal), o pirolito em forma de chupetinha, o quebra-queixo, a cocada de fitas, o amendoim torradinho, as compotas da vovó, a broa de milho... Hummm! Quando a gente é criança tudo é mais gostoso, tudo tem um sabor diferente, tem gostinho de infância!
Havia um toquinho de madeira segurando a porta da cozinha, nele o Licininho (primo) sentava-se para comer os docinhos da vovó. Ela lhe perguntava, quando ele acabava: -" Chegou, Licininho?" Ao que ele respondia: - "Cheguei". Ela chorava de tanto rir, aliás vovó ria-se de tudo, mas zangava-se também com nossas artes. Vovó era uma criança!
Eu e o Licininho nos dávamos muito bem, nunca brigávamos, estávamos sempre juntos nas traquinagens, mas tia Nita não dava muita folga para ele, era o caçula e ela estava sempre com medo que se machucasse ou pegasse um resfriado. Amava muito também meu primo Élcio, era mais velho que nós, mas brincava conosco e era muito alegre e divertido, Nós o perdemos muito cedo. Só pode ter ido para o Céu!
Gostava de ouvir as novelas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, mas elas começavam às seis horas da tarde, hora da Ave Maria, com Júlio Lousada, que vovó não perdia por nada deste mundo. Então eu ia para a casa do tio António e da tia Amélia, sentava-me quietinha e ficava ouvindo junto com os dois velhinhos as aventuras do Anjo e Jerônimo o Herói do Sertão.
Eu devia ter nessa época uns seis ou sete anos.
Tia Amélia era uma figura. Era alta, meio gordinha, muito mansa, simpática, dava-me um copo de suco, às vezes uma carambola, bolachas...
Tio Antônio era inteligente, acho que era professor aposentado, conversava comigo como se eu fosse um adulto, e eu ficava orgulhosa com isso.
Eu gostava muito daqueles dois!
Fui crescendo, tornei-me adolescente... lembro-me de uma vez em que fiquei com a vovó, sem meus pais, só naqueles dias é que descobri o quanto ela era linda, sensível, carinhosa, longe da imagem de velhinha rabugenta que ficou da infância, quando ficava brava com as nossas traquinagens.
Foi em Olinda também que reencontrei meu companheirinho de infância, que se tornou o meu primeiro namorado...O meu primeiro amor...!
A vida, no entanto, separou nossos caminhos!
Quando somos muito jovens não sabemos reconhecer o amor... não reconhecemos um sentimento verdadeiro... "Eu era muito jovem para saber amar"
Não voltei mais à casa da vovó depois que ela se foi!
A nossa Olinda é hoje uma doce lembrança em minha memória. Um dia ainda voltarei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário