quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Escola de Antigamente

Grupo Escolar Antônio João, em Piquete-Sp.Turma do 1° ano em 1957
Postada por Ilce Nunes e fotografada por D Mariinha
                           
Foi no Grupo Escolar Gabriel Prestes em Lorena, no estado de São Paulo que pela primeira vez entrei numa sala de aula.
Já havia sido alfabetizada por meu pai porque morávamos no Estado do Rio de Janeiro onde, além de morar distante, era difícil conseguir vagas na escola.  Preocupado em ver que eu crescia sem saber ler e escrever, ele me ensinou o que sabia.
Tinha nove anos quando entrei na primeira série do curso primário. Graças ao meu querido pai, ao carinho e à competência de minhas professoras, à minha vontade enorme de aprender,  não tive dificuldade alguma em meus estudos.

Tudo era novo para mim, a disciplina, a organização da escola, , o material de ensino, tantas crianças juntas...
 Estranhei um pouco as carteiras duplas  que, se nos mexêssemos muito, balançávamos a mesa do colega de trás e o da frente balançava a nossa. O tinteiro com tinta Nanquim ou Parker era embutido na mesa.
Havia  lugar também para a goma arábica, para lápis e borracha.  Em baixo dela havia espaço para colocar os cadernos e livros.
Toda sala possuía um apontador de lápis coletivo e tínhamos o alongador que permitia usar o lápis até estar um toquinho ( que tal essa dica ecológica nos dias atuais?)

pena de escrever




Parker 51 -  caneta tinteiro dos anos 60
               No início, no primeiro ano, usávamos lápis Johann  Faber para escrever, ainda era usada também a caneta de madeira com ponta metálica, a pena de escrever, que não podia cair, sob hipótese alguma, porque a frágil ponta metálica se partia ( lembro-me de lindos desenhos que eram feitos a bico de pena, com tinta Nanquim).



homem vitruviano imaginado por Leonardo Da Vinci -exemplo de desenho feito à bico de pena


Depois foi criada a caneta tinteiro.
Quanta tinta derramada!
Foi uma grande alegria quando ganhei a minha primeira Parquer 51, era um luxo!
Sendo canhota, escrevia passando a mão por cima da escrita e muitas vezes borrava a folha do caderno porque a tinta demorava a secar.  Eu precisava fazer ginástica para escrever.




 Para  enxugar o excesso de tinta usávamos  mata-borrão.
                                                                   


Os cadernos eram  de brochuras,  grampeados no centro.
Se arrancássemos uma folha, a  outra despencava e, por mais cuidado que  tivéssemos, ficavam cheios de "orelhas".
O caderno de caligrafia deixou minha letra redondinha que dava até gosto!
 Foi a d. Ester, professora do  terceiro ano, que me aconselhou,  a copiar nele, durante as férias, a última e enorme lição do livro de leitura.

Tínhamos também um caderno de Linguagem, um de desenho, um de ocupação e um só para provas. Todos eram encapados, etiquetados e guardados em armários nas salas de aula. Somente levávamos para casa o caderno de tarefas diárias.
O livrinho de tabuadas (continhas de vezes) era decorado "na ponta da língua", a régua era de madeira,
as folhas de papel ao maço pautadas, também guardadas no armário, eram usadas nos exames do meio do ano e finais. Tínhamos uma espécie de mala ou pasta para transportar o material de casa,  que deveríamos cuidar muito bem para que durasse os quatro anos.


A alfabetização era iniciada com  a "Cartilha Sodré: " de Benedita S. Sodré 

"A pata nada.  
A macaca é má. 
Pata pa      nada na    
macaca ma
Inesquecível!                                                                                 
                                                                                                                                                                                                                           

O primeiro livro foi o "Caminho Suave" de Branca Alves de Lima.
Hoje muitos criticam os métodos de alfabetização utilizados na época, mas a verdade é que os alunos ao final do curso liam e escreviam corretamente. Um exemplo disso foi meu pai, que me alfabetizou, tendo cursado apenas até o segundo ano primário. Quantos alunos atualmente chegam à sétima e oitava séries do ensino Fundamental sem saber ler!
    
                                
                                                       
Eu era muito alta, além disso era dois anos mais velha que as outras crianças. Ficava profundamente envergonhada quando fazíamos fila para entrar ou sair da classe,  era quase o dobro da altura de meus colegas, e  me curvava para parecer menor, queria que um buraco se abrisse para poder me esconder!
No recreio via as crianças brincando de roda, de pega-pega, chicotinho queimado,... e me achava sem jeito para brincar com elas, mas aos poucos fui me adaptando. Sentia que apesar de toda a minha timidez  aos poucos elas iam se aproximando de mim.
Havia respeito, amizade, entre os pequenos da época.
A facilidade que eu tinha em aprender foi conquistando minhas professoras,  até as ajudava a corrigir cadernos.
A escola se tornou o meu segundo lar.
A nossa infância na escola era imensamente feliz!


Tenho saudades:
das minhas professoras, D. Ester de Almeida, D. Mirthes, D. Heloísa E. de Castro Andrade,
gostaria muito de ter sido aluna de D. Elsa Del Mônaco e  de D. Doli de Castro Galvão, porque elas organizavam o orfeon da escola, que era a minha paixão.
Todas eram profissionais competentes, dedicadas, exigentes quanto à aprendizagem, rígidas quanto à disciplina, tinham controle  absoluto sobre seus mais de quarenta alunos em sala de aula.
Saudades também dos diretores que amávamos: D. Ângela e Prof . Frederico Húmeo,
da D. Aparecida Pereira, nossa inspetora,
do seu  Porto que tocava o sino da entrada e saída dos alunos...\
Passaram-se rapidamente aqueles quatro anos.


Tínhamos em seguida,  sendo aprovados, que passar pelo exame de Admissão ao Ginásio,eram provas escritas e orais, dificílimas, uma espécie de "vestibulinho". Alguns alunos faziam um período preparatório de um ano, mas este não era obrigatório.


                                              
           

Vencida mais esta etapa, seguíamos para a primeira série ginasial, onde nos esperavam treze matérias, aulas também aos sábados, com provas semanais          ( sabatinas)e mensais, exames parciais ( meio do ano) e finais, orais e escritos. As matérias eram todas com notas atribuídas de 0 a 100 e eram: Matemática, Português, Francês, Inglês, Latim, História do Brasil e Geral, Geografia, Ciências Físicas e Biológicas, Canto Orfeônico, Economia Doméstica ( trabalhos manuais, culinária, primeiros socorros, etc), Desenho Geométrico ( cada aluno tinha a sua prancheta), Educação Física, Religião, Educação Moral e Cívica. Dureza!
                         

Alunos de todas as classes sociais frequentavam a escola pública em harmonia, como numa perfeita democracia. Um diploma adquirido nessas escolas valia tanto quanto o das escolas particulares.
A disciplina no ginásio era rígida.
Na entrada precisávamos apresentar a caderneta escolar que era recolhida e carimbada diariamente,  somente retirada no final das aulas (matar aulas, nem pensar). Se bem que um ou outro aluno dava seu jeitinho de escapar, mas não conseguia safar-se da ocorrência registrada na caderneta.
Vários inspetores de alunos nos mantinham sob vigilância constante, mas eram gentis conosco:  dona Natívidade, a Sílvia, a dona Diva, o "seu" Fausto, "seu" Portugal...O  Diretor, Professor Nelson Pesciotta, dirigia com pulso firme o nosso amado Arnolfo Azevedo!
O uniforme  completo era obrigatório: saia ( calça social ) azul-marinho pregueada, blusa ( camisa ) branca de mangas curtas  com o emblema da escola no bolso:  "AA" (Escola Estadual Arnolfo Azevedo), sapatos pretos ou tênis branco (nos dias de Educação Física), meias brancas .


  Participávamos de jogos, campeonatos internos e inter-municipais,  olimpíadas, desfiles em datas cívicas, (eu estava sempre na guarda de honra das bandeiras e uma vez  fui a Estátua da Liberdade), a nossa fanfarra era  campeã!
Todos os anos apresentávamos um festival com números musicais, teatro, dança,...
Tenho saudade maior ainda do nosso coral, onde eu fazia a primeira voz e solo.
Nosso Grêmio Estudantil era ativo, participávamos das decisões, da vida da escola.
Éramos felizes! Ríamos muito com as brincadeiras e piadas dos colegas, ( havia sempre um engraçadinho na turma). Bons tempos!


Concluída a quarta série ginasial,  finalmente chegávamos ao Curso Colegial ou Normal. Precisávamos optar entre: Científico (para áreas de ciências exatas), Clássico(para Línguas) e Normal ( o que escolhi, para ser professor).
A escola nos formava para a vida, saiamos dela cidadãos conscientes ! Amávamos nossa Pátria!
           


Identidades foram formadas, teceram-se histórias, marcas foram deixadas pelo Tempo, lembranças, muitas coisas esquecidas, fotografias amareladas, velhos troféus abandonados nos velhos porões, livros mofados,...
Ao longo dos anos fomos perdendo a memória dessas instituições e quem sabe de nós mesmos.
CEEN Arnolfo Azevedo-Lorena-SP- sala de desenho -
Turma  3° ano Normal- 1966
 Quando me lembro daquele tempo e comparo com a escola pública dos dias atuais,  não posso deixar de pensar com tristeza  que alguns jovens da época, que tanto protestavam e se revoltavam contra o governo, hoje estão no poder. O que fizeram eles da nossa escola?
O que fizeram dos ensinamentos que receberam, dos ideais de liberdade e amor pela democracia que apregoavam ?
O que fizeram eles com os sonhos da nossa juventude?





"Se és incapaz de sonhar, nasceste velho; se o teu sonho te impede de agir, segundo a realidade, nasceste inútil; se porém, sabes transformar sonhos em realidade e trocar as realidades  com a luz dos teus sonhos, então serás grande na tua Pátria e a tua Pátria será grande em ti."

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Uma nova chance

A vida da gente às vezes parece um filme, do qual somos meros expectadores.
Nossa percepção é pragmática, não nos permite perceber a realidade além daquilo que tenha para nós interesse imediato.
                                                                                                                                                                 E vamos vivendo levados por nossas emoções, até que um dia nos vemos numa situação de risco:  um grande perigo,  uma doença grave,  um acidente... uma situação de quase morte...



Inevitavelmente temos que parar.
Percebemos então  a insignificancia de nossa condição humana, frente às forças da Vida e da Morte.


Neste momento todos os nossos conceitos são revistos: ambições, orgulho, altivez, poder... nada mais importa, além do dom precioso da Vida.



                                                                                                                                                                  "Quão longa é a noite da Eternidade comparada com o curto sonho da Vida."
                                                        Arthur Schopenhauer


 Numa situação de quase morte, uma força descomunal parece arrastar-nos para um abismo infinito, o corpo exausto sente a necessidade de se entregar ao descanso, mas uma força ainda maior nos traz à consciência e uma voz nos diz que ainda há uma missão a ser cumprida, que ainda não é hora de partir. Lutamos desesperadamente para sobreviver e voltamos á Vida.  Estamos recebendo a graça de uma nova chance de mudar nossos caminhos.

Depois, presos a um leito,vem a sensação de impotência, de esgotamento, sentimos que somos como barquinhos de papel em rios caudalosos, grãos de areia perdidos no deserto, simples joguetes da Vida no Tempo e no Espaço.
Esta sensação de debilidade pode levar à depressão e é quando vamos buscar num Ser Superior a força para vencer mais uma vez.
Podemos, em seguida, sentir a euforia de haver vencido a morte.  A vida  tem um novo sentido, uma nova dimensão.  Passamos a dar valor às pequenas coisas que não percebíamos antes, como por exemplo poder segurar um talher, tomar banho sozinhos, caminhar sem precisar de amparo, pentear os cabelos...
É necessário que estes momentos não sejam esquecidos, eles são os sinais que nos mostram o caminho à seguir.
A vida  para todos nós é como uma folha de papel em branco, com um único ponto negro no centro.
Somos levados por nossa percepção a nos ocuparmos com aquele pequeno ponto. Esquecemos, no entanto, de prestar atenção à brancura da folha.
                                                  
Quantos momentos felizes perdemos por deixar passar a beleza das coisas simples, como o sorriso de alguém que passa por nós na rua, o canto da passarada no final de tarde, o abraço de um amigo, a saudade que a gente mata de alguém distante recebendo um e-mail,  sentir o cheiro doce do capim cortado para os animais, ver as seriemas no quintal buscando o alimento que falta no campo por causa da seca, o jardim florido em pleno inverno, as árvores despidas de sua ramagem,  o gado chegando ao curral pela manhã bem cedinho, a neblina vestindo a paisagem, as gotinhas de orvalho molhando o gramado, o café com leite recém ordenhado, o queijo fresco, o requeijão,...

Escreva, em sua folha em branco, a linda história de uma vida cheinha de Felicidade.

                    


Aproveite a chance, aproveite o dom supremo  que é a Vida.
Viva como vivem as crianças: com alegria, com simplicidade, com Amor e Esperança! 





"Gozar o presente é fazer disso o propósito da Vida,, é a maior sabedoria, visto que somente o presente é real, todo o mais é representação do pensamento."  
                                                                                                                     Arthur Schopenhauer

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