terça-feira, 21 de junho de 2011

O quintal da minha infância!

   Nasci em Olinda, uma cidadezinha simples, município de Nilópolis, no Rio de Janeiro Vim ao mundo pelas mãos de uma parteira ( personagem quase desconhecida nos dias de hoje),em casa de minha avó paterna, a vovó Julieta, uma velhinha ranzinza da qual só percebi a doçura da alma muitos anos mais tarde e do vovô José (o "seu Flô").


Vovô era um homem pacato e muito engraçado. Alto, magro, estava sempre de terno, chapéu e um guarda- chuva pendurado no braço. Ria-se quando levavamos umas palmadas e dizia: -" Ih! Que vergonha!". Ah! como o pensamento voa!


  Meus pais moravam numa casa da rua Wenceslau Brás, dali tenho algumas lembranças muito queridas: um pé de cajá manga ( até hoje sinto a boca encher d'agua ao lembrar do gosto azedinho- doce daquela fruta), um tanque de lavar roupa onde meu primo Lanzinho, brincando comigo, quase me afogou (coitado além do susto ainda levou uns cascudos), lembro-me também da dona Joaquina, uma senhora que usava um coque no alto da cabeça, aliás, lembro-me mais do coque do que dela própria, lembro-me também do "seu" Manduca, do Mané João ( mamãe dizia que eu era filha dele,  de brincadeira, mas o pior é que eu acreditava), mas nunca me esqueci do "seu" Djalma e da dona Silvia, amiga de minha mãe, rezadeira, muito querida na vizinhança e de seus filhos Dinéia e os gêmeos Cosme e Damião, meus companheirinhos de infância.Lembranças  que ficaram perdidas num passado tão distante! Ah, se pudessemos voltar no tempo!



Eu devia ter mais ou menos uns cinco anos quando papai construiu nossa casa, em Nova Iguaçú,cidade vizinha, A casa era pequena, mas era linda! Tinhamos um quintal onde mamãe fez um jardim que vivia florido o ano inteiro, uma horta e um pomar. Mamãe tem mãos de fada, ou melhor dizendo, tem o dedo verde, as plantas ao seu toque tornam-se mais lindas e viçosas.


Tinhamos também algumas árvores onde eu subia ( apesar da proibição de mamãe)e nos galhos mais altos sonhava com longas viagens por terra e pelos mares,cavalgava em lindos cavalos brancos, levada por um principe encantado, conversava com fadas e gnomos, enfrentava piratas, via o mundo do topo de uma montanha... Dali eu podia voar bem alto, sentir no rosto o calor do sol, o vento quente a agitar meus cabelos lisos e longos, acalentando os meus sonhos de menina presa entre os muros daquele pequeno quintal, que parecia imenso para os meus poucos anos . Era despertada dos meus sonhos, no entando, por minha mãe gritando -" Desce daí, Neinha!" Aí eu descia "correndo", mas sempre acabava levando uns puxões de orelha por desobedecê-la.


  Foi meu pai quem me ensinou a ler e a escrever. Meu pai, meu querido Velho! Como eu gostaria de poder agradecer e dizer-lhe, mais uma vez,  o quanto eu o amo e quanta saudade sinto de você!
   Naquele tempo era muito difícil conseguir vagas  nas escolas públicas do Rio de Janeiro e assim papai ensinou-me tudo o que sabia, e isso me possibilitou, alguns anos mais tarde, ser uma das melhores alunas das escolas que frequentei e a ter pelos livros uma enorme paixão.


Eu e meus irmãozinhos, a Sueli  (  Du ) e o Sidney (Nei), vivemos ali , naquele quintal os melhores anos de nossas vidas, e foi com o coração cheio de tristeza que um dia tivemos que partir, em busca de uma nova vida, num lugar distante, desconhecido.
   Guardo, em minha memória, as mais doces lembranças da infância vivida na casinha branca  da rua Primavera.

Um comentário:

  1. É isso aí, Sidnea!
    Gostei do estilo. Essas histórias, nos tornam eternos.

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